Trabalhos realizados na casa de espetáculos são voltados para a primeira grande reforma no local, ocorrida em 1929.
Por Lucas Rigaud e Maria Laura Pires
Foto: Prédios do Recife/Maria Laura Pires
Fechado há mais de 10 anos, o Teatro do Parque, localizado na Rua do Hospício, bairro da Boa Vista, comemorou o seu centenário, em 2015, na penumbra no esquecimento. Desde o fechamento da estrutura secular, para a realização de obras de reparos e requalificação, havia sempre um prazo para a entrega do centro artístico, que, por insuficiência de recursos e atrasos, era constantemente adiado.
Por um inesperado milagre em plena pandemia, a cidade do Recife acordou entre os meses de julho e agosto com a notícia de que as obras do Teatro do Parque estavam em um considerado avanço e prestes a realizar o sonho da população de ter novamente a estrutura como opção de entretenimento e convivência no centro da cidade.
Foto: Prédios do Recife/Maria Laura Pires
Foto: Recife em Cliques/Lucas Rigaud
Inaugurado em 1915, o Teatro do Parque sofreu quatro grandes intervenções ao longo de sua história. A primeira data de 1929, quando o Teatro foi ampliado e adaptado para a função de cine-teatro. A segunda se deu em 1968, quando o espaço recebeu ajustes de uma reforma que conferiu a ele características modernistas. A penúltima grande intervenção foi em 1986, quando se observou alguns pequenos indícios de obras de restauração. Já a última é datada do ano de 2000, quando foi realizada obras para instalação de sistema de climatização. A nova requalificação do Teatro do Parque, além de comemorar os 105 anos da estrutura, tem como principal base a primeira grande intervenção de 1929, após um detalhado trabalho de pesquisa histórica, como afirma o gestor da casa de espetáculos, Marcelino Dias:
“A grandiosa intervenção realizada pela Prefeitura do Recife no equipamento histórico combina obras civis com um delicado e minucioso trabalho de restauro de toda a estrutura predial, bem como de elementos decorativos, para devolver as características do projeto arquitetônico original de 1929 à casa de espetáculos, que se sagrou unanimidade entre públicos de todos os estilos e preferências estéticas, idades e perfis socioeconômicos.”
“Mesmo se tratando de um trabalho delicado, parte dele executado durante o período da pandemia da covid-19, as obras do teatro encontram-se dentro do cronograma previsto, com inauguração programada para o final deste ano.”, esclarece Marcelino.
O gestor do Teatro do Parque, que também já esteve à frente da gestão do Teatro Barreto Júnior, ainda destaca a importância da recuperação da estrutura do prédio que abriga o teatro:
“É importante ressaltar que o trabalho de recuperação da estrutura predial do teatro, gerido pela Fundação de Cultura Cidade do Recife, foi fundamental para que toda a obra de reforma e restauração pudesse acontecer.”
As obras de requalificação
De acordo com a Arquiteta do Gabinete de Projetos Especiais da Prefeitura do Recife, Simone Osias, responsável pela coordenação geral das obras do Teatro do Parque, a equipe de restauro da casa de espetáculos precisou desempenhar um trabalho implacável de pesquisas fotográficas, para identificar as principais características do teatro no ano de 1929.
Em entrevista exclusiva ao Prédios do Recife, Simone detalhou as 3 etapas para o processo de restauro do Teatro do Parque:
“Inicialmente, entramos no teatro para sanar todos os problemas e estancar o processo de degradação, como goteiras, infiltrações, acúmulo de água no solo pela drenagem ineficiente e elevação do solo no terreno vizinho (antigo Marista) e corrosão das estruturas metálicas. Substituímos toda a coberta e seus elementos, assim como toda instalação elétrica e hidrossanitária, e iniciamos a decapagem de algumas alvenarias.”
Foto: Simone Osias
Foto: Simone Osias
Foto: Simone Osias
Foto: Simone Osias
Foto: Simone Osias
“A segunda etapa teve como objeto a continuação das reformas e o restauro propriamente dito. Decapagem integral das alvenarias, substituição dos pisos, execução do novo projeto de iluminação ambiente, restauro dos 3 lustres de cristal existentes, restauro das 164 esquadrias tipo veneziana com introdução de baguetes de madeira para evitar a perda do ar-condicionado e entrada de luz, substituição de todo o sistema de climatização do teatro, por um sistema mais eficiente e discreto, visualmente.”
Segundo Simone, esta etapa em questão ainda contou com trabalhos de extrema importância para a estrutura do local, como a instalação de novo sistema de detecção e combate a incêndio, incluindo sprinklers em todos os ambientes. Também é frisada a restauração de todos os elementos em madeira, com substituição de peças, trabalhos em marchetaria e pintura, assim como os restauros de todos os elementos decorativos em gesso - como os capiteis das colunas, os ornatos e frisos, incluindo a confecção das ferramentas e formas usadas - e metálicos - como gradis, portões, peças estruturais -. A recuperação estrutural e restauro das colunas da plateia também foi um ponto importante destacado, além dos trabalhos de paisagismo e pintura geral do teatro.
Foto: Prédios do Recife/Maria Laura Pires
Foto: Prédios do Recife/Maria Laura Pires
Foto: Prédios do Recife/Maria Laura Pires
Foto: Recife em Cliques/Lucas Rigaud
Foto: Recife em Cliques/Lucas Rigaud
Foto: Recife em Cliques/Lucas Rigaud
Foto: Recife em Cliques/Lucas Rigaud
Foto: Recife em Cliques/Lucas Rigaud
Foto: Recife em Cliques/Lucas Rigaud
Por fim, Simone nos detalhou a terceira e última etapa da requalificação do Teatro do Parque, que “vem acontecendo em paralelo com a segunda desde o início deste ano de 2020, tem como escopo a reforma com modernização da Caixa Cênica, o coração do teatro. Estamos modernizando a mecânica cênica do teatro, através da introdução de varas motorizadas e contrapesos fixados em guias e construindo passarelas de serviço. Estamos dotando o teatro dos equipamentos mais modernos disponíveis: Cinema com projeção 4K e 3D; luz cênica completa para shows e espetáculos musicais; sonorização com 4 sistemas distintos para atender ao cinema, som para teatro, som para shows musicais e som para eventos corporativos; introdução de cortina corta Fogo; substituição de toda a vestimenta cênica, como cortinas nobres, lambrequins, bambolinas, pernas e rotundas; introdução de sistema de áudio-descrição”.
O Teatro do povo recifense
Não é novidade afirmar que o Teatro do Parque, assim como tantas salas de exibição de filmes e peças teatrais que marcaram a história da cidade, é um dos maiores elementos saudosistas do povo recifense.
O cineasta e quadrinista Luciano Monteiro era um dos assíduos frequentadores do Teatro do Parque e guarda boas lembranças consigo:
“Uma memória engraçada foi uma vez que choveu e tinha goteiras na sala. Tive que assisti ao filme com o guarda-chuva aberto. Isso deve ter sido em 1995 ou 1996. Um dos momentos mais emocionantes para mim foi quando organizei e realizei um Mostra de Cinema de animação canadense no Teatro do Parque. Foi um projeto do Centro Brasil Canadá, com apoio do Consulado do Canadá no Brasil. O tema: A obra do mestre da animação Norman McLaren. Cobrimos quase toda a obra do cineasta e ainda contamos com uma exposição sobre sua vida e obra e uma solenidade na noite de abertura com a presença do Prefeito do Recife (João Paulo na época) e Peixe, o secretário de Cultura.”
Luciano também desabafou sobre a ausência do Teatro nesses últimos 10 anos:
“O que mais sinto falta não é apenas pelas sessões de cinema, mas também o excelente espaço de convivência onde era comum encontrar pessoas, se reunir com amigos e as vezes simplesmente descansar na excelente área verde que havia dentro do espaço. Realmente faz muita falta.”
Pelo que tudo indica, a gestão municipal vai finalmente entregar o Teatro do Parque, devidamente equipado e restaurado, para que a população recifense possa desfrutar das melhores produções artísticas e de um ambiente cultural que inspire o conhecimento, que não só a cidade do Recife como todo o Brasil tanto precisa.
Para ver o curta-documentário que produzimos na visita a obra, acesse o link abaixo:
Texto: Lucas Rigaud
Direção: Lucas Rigaud
Fotos: Lucas Rigaud e Maria Laura Pires
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