Quem lembra do Edifício Caiçara, situado na Avenida Boa Viagem?
Demolido em 7 de abril de 2016 após intensa polêmica online e offline, batalhas judiciais, e opiniões diversas sobre o que fazer com o antigo edifício.
Quase 10 anos atrás, paralelo ao Ocupe Estelita, a "batalha" pela pequena edificação dos anos 1940 foi um dos grandes debates acerca do patrimônio construído do Recife que "furou a bolha" das universidades e debates envolvendo historiadores, arquitetos, urbanistas, etc.
Muito se falou sobre a preservação de edificações históricas, e apesar do triste fim que o Caiçara teve, o seu caso trouxe um pouco de luz para esse tema ainda muito obscuro para as grandes massas.
Em entrevista, o diretor Kleber Mendonça Filho comentou que o filme "Aquarius", dirigido pelo mesmo, pretendia ter como locação o Edifício Caiçara. Porém, este foi demolido, fazendo com que o filme fosse por fim gravado no agora conhecido Edifício Oceania, este que recentemente adquiriu status de Imóvel Especial de Preservação.
A Arquitetura do Edifício Caiçara
Construído em 1940, o Caiçara imprimia na paisagem da Avenida Boa Viagem o "morar de sua época", exibindo em sua arquitetura, o período no qual o hoje mais populoso bairro do Recife era um local de veraneio, ainda pouco urbanizado.
Uma figura pitoresca e vernacular, de planta e fachadas simétricas, com os apartamentos dispostos para cada um dos lados da "torre cilíndrica" que compreendia a circulação vertical. Era revestido com pastilhas coloridas, predominando o verde e o branco. Suas janelas tinham esquadrias de madeira, ornamentadas e emolduradas por pilaretes também na cor verde.
Como muitos edifícios mais antigos, o Caiçara tinha um "poço de ventilação" para onde davam as janelas dos banheiros, solução não mais permitida nos dias de hoje, e que graças ao gabarito reduzido do edifício, permitia a iluminação das áreas sanitárias.
Para além disso, tinha os quartos de serviço dispostos no fundo do lote, separados da edificação principal, uma "herança colonial" impressa na arquitetura. A despeito de juízos de valor quanto as soluções e decisões projetuais, o pequeno prédio guardava em si o modo como se construía em Boa Viagem na primeira metade do Século XX, e poderia ainda existir para que as gerações vindouras pudessem por meio dele, vislumbrar um passado arquitetônico que há muito nos deixou.
Na época onde sua demolição era iminente, foi pleiteado o seu cadastro como IEP (Imóvel Especial de Preservação), porém as tentativas não colheram frutos. Infelizmente, tudo que fora relatado acima não serviu para sua preservação, e hoje, o Edifício Caiçara é só lembrança, um estudo de caso presente em artigos e notícias da época, bem como nas infinitas discussões sobre a preservação do patrimônio construído.
As fotos que ilustram esta matéria - tiradas por Brenno Barbosa, arquiteto colaborador, e também apaixonado por prédios antigos - foram tiradas pouco após a primeira tentativa de demolição, onde este entrou no prédio moribundo para tentar guardar em imagens o pouco que restou.
Texto: Brenno Barbosa & Maria Laura Pires
Referências:
Maria de Lourdes Carneiro da Cunha Nóbrega e José Nilson de Andrade Pereira | Combateu o bom combate, acabou a carreira e guardou a fé: Reflexões sobre o edifício Caiçara (2016)
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