Por Maria Laura Pires e Tota Maia
Edifício Araguaia
Projeto: Delfim Amorim
Ano: 1961
Av. Governador Carlos de Lima Cavalcanti – Derby
Um modesto prédio passa despercebido em meio à rotina da movimentada Av. Agamenon Magalhães. Com apenas três pavimentos, sendo o térreo do tipo pilotis, atribuído à garagem, o Edf. Araguaia foi destinado à habitação, e possui dois tipos de apartamento.
O edifício Araguaia, obra de 1961 do português Delfim Amorim, é um daqueles exemplos em que se comprova a tese que escala e fino acabamento não são preponderantes para que se tenha um ótimo exemplo de arquitetura. Em proporções diminutas, este edifício residencial horizontal de apenas térreo, pilotis e três pavimentos tipo, chamava a atenção pelas suas notáveis relações volumétricas.
A edificação se inicia com uma malha de colunas bem a maneira “Corbusiana” – o pilotis – que “solta” o edifício do solo, demonstrando uma clara influência do modernismo. Um belo septo de pedra, ligeiramente afastado das colunas circulares e um pouco mais baixo do que a primeira laje, diferencia o que é estrutural e o que não é, além de induzir os visitantes ao acesso da edificação.
Os primeiros lances da escada servem tanto para o acesso social como o de serviço, e após o patamar, surgem dois lances distintos, cada um para uma zona. O banheiro e a cozinha recebem luz natural, através de rasgos horizontais na fachada, protegidos pelos ressaltos dos pavimentos superiores.
Situado de esquina com a Av. Agamenon Magalhães e Av. Governador Carlos de Lima Cavalcanti, em frente ao restaurante Mc Donald’s, as duas fachadas que recebem mais sol são quase inteiramente revestidas de azulejos, o qual foi desenhado e concebido pelo próprio arquiteto.
A cada dia vemos novas violências e agressões ao edifício, um prenúncio do óbito. A decomposição do Araguaia mata, um pouco também, um tempo em que o edifício vertical era resolvido em três dimensões, e não em duas como as que vemos atualmente após a chegada de uma “determinada empresa do sul”, que simplificou o tema ao mesmo formato, cores e revestimentos, assim como Henry Ford fez com a sua “produção em série”. Hoje, nossos edifícios são como um Ford T: “disponível em qualquer cor, contanto que seja preto”.
Jamais seremos indiferentes a Amorim e ao Araguaia; Mas a passividade como tratamos os descasos aos edifícios modernistas sim, é nota de desprezo.